26.5.14

Continuamos observando... A questão dos cultos afro-brasileiros




Prof. Pablo Magalhães
Editor-chefe
O Historiante


O que são ignorantes? O que é ignorar? Voltaremos à esta questão ao final deste pequeno texto.

De fato, e eu tendo a concordar com essa assertiva, vivemos em uma sociedade de ignorantes, que se regozija em valorizar e enaltecer a ignorância. Desconhecer e criticar (o velho ato que exercita o PRÉ-CONCEITO) é prática bastante comum entre boa parte (total parte, acredito) destes nobres e notáveis ignorantes.

A última amostra desta atitude partiu de um douto senhor, juiz federal titular da 17ª Vara Federal do Rio de Janeiro, Eugênio Rosa de Araújo. Para este espécime da casta dos (in)tocáveis senhores do direito do país, religiões afro-brasileiras não seriam "religiões". A explicação? Bem, a "tentativa frustrada" de oferecer explicação a isso partiu de uma estratégia bastante oportuna: o que é religião? "Para mim...", pensou o nobre e sapiente juiz, e definiu o que para si, em sua criação cristã, seria uma expressão de credo religioso.

Na justificativa, a decisão em primeira instância, publicada no dia 1 de abril (hum... bastante sugestiva essa data), dizia que "manifestações religiosas afro-brasileiras não se constituem religião", porque elas não conteriam "traços necessários de uma religião, de acordo com um texto-base", tais como a Bíblia para os cristãos ou o Alcorão para os islâmicos. O Juiz ainda citou "ausência de estrutura hierárquica e ausência de um Deus a ser venerado".

Um conceito limitado hein, Eugênio? Talvez o "Ego" que faz parte do seu nome (EU... Gênio!?!?!) esteja enviesando aquilo que você entende, enquanto cidadão, do que seja religião. Para seu modelo pequeno, estreito, os credos afro-brasileiros estariam de fora. Por quê? Ah, caro... Porque você IGNORA aquilo que está além do seu conceito.

O que sabemos: diante da repercussão de sua atitude, o juiz reconheceu na última terça-feira, dia 20, que as manifestações religiosas afro-brasileiras constituem, de fato, uma religião.

Juiz, em nome da equipe do Observatório do Historiante e do Projeto Historiante como um todo, convido-o a conhecer um pouco mais sobre as manifestações religiosas e culturais afro-brasileiras. Talvez assim (desejo de todos os professores), você APRENDA que fé, credo, EXTRAPOLAM seu curto conceito de RELIGIÃO.

http://ohistoriante.com.br/tambor-de-mina.htm

http://ohistoriante.com.br/rastafarianismo.htm

http://ohistoriante.com.br/candomble.htm

*          *          *

Ignorante:

1- Diz-se de pessoa que ignora, que não tem conhecimento de determinada coisa.
2- Diz-se de pessoa que não tem instrução, que não sabe nada.
3- Popularmente: falto de educação, ou aquele que não a tem; estúpido, grosseiro.

Ignorar:

1- Fazer de conta que algo, ou alguma coisa, não existe; não saber sobre uma determinada coisa.

Hehe, alguém aí achou o EU... Gênio nessas definições?

22.5.14

A demonização do espaço, a área VIP e seus entusiastas.




Existem dois tipos de evento, os privados e os públicos. Refiro-me a eventos musicais, shows, apresentações de bandas famosas ou o que costumamos chamar de festas. As festas das nossas cidades de Juazeiro e Petrolina cada vez mais afastam o grande publico das atrações, por vezes, há muito tempo esperadas, com a prática nefasta e excludente das áreas VIP.A área VIP é algo novo aqui na região e parece que veio para ficar. E que funciona da seguinte forma, o espaço do clube ou casa de show escolhida/escolhido para receber a atração é descaradamente “retalhado” e configurado para agradar aos pagadores exclusivos, o iluminado cliente VIP. Pelo porte das duas cidades e pelo nível das atrações trazidas para cá, os preços dos ingressos são proporcionalmente abusivos em comparação a outras cidades mais, digamos, desenvolvidas. O que por si só, já é um absurdo.

A pista virou o novo povo (povo aqui, não represente a massa), e sabemos que o povo não participa destas festas. Acho que muitas mulheres e homens do povo, por exemplo, gostariam de pagar um preço justo para ver uma artista, cantor ou banda renomado/renomada. Curtir um evento com segurança, bom trato e tranquilidade, a meu ver, nestes eventos e espaços “pista” é praticamente impossível. A pista tornou-se uma ilha de desgarrados, pobres coitados que não podem gozar dos prazeres e privilégios das áreas mais abastadas, com uísque caro e massagem no pé.Não sou contra a área VIP e sim contra a má utilização do espaço para quem fez a opção de não “ser” área VIP. Quem pode pagar por uma mesa, ou camarote, que pague! Mas, a organização do evento que não prejudique quem não quer, ou não pode, pagar pela mesma. 

A estrutura é montada para favorecer somente os que decidiram pagar um muito a mais, para obter privilégios que poderiam ser concedidos a todos os pagantes independente da classe ou área a que pertença se algumas outras questões fossem respeitadas, mas esta, já é outra história.Hoje já existe o VIP do VIP, as áreas “Privilege”, que como o próprio nome já incita, nos remente a algo singular e único. Nada mais é do que uma prática de cada vez mais restringir e limitar os espaços, demonizar e montar a alegoria do alpinista, onde homem/mulher tem que alcançar o cume do status social, para que até numa festa ou evento possa demostrar sua superioridade.

A criação da área VIP é reflexo de nossa sociedade, assim como outras questões mais relevantes, como a educação privada e os planos de saúde particulares. Contudo, esta questão pode servir perfeitamente para ilustrar o quanto, cada vez mais, o homem se separa do homem. Quem pode pagar, continuará a pagar, que vende sempre contará com uma clientela fiel. Que continuem a área VIP, mas que se respeite a opção, ou condição do outro

19.5.14

Amazonas quilombolas

Sabe a lenda grega de mulheres amazonas que viviam em um reino e eram habilidosas guerreiras? Então, vamos fazer uma viagem rápida,  quero te mostrar a versão negra-sertajena-nordestina-quilombola!



O legado de luta e resistência contra o modelo escravocrata que existiu no Brasil por 300 anos foi sempre uma marca dos territórios quilombolas. Aprende-se desde cedo nas escolas que o quilombo era um espaço de refúgio para os negros fugidos das fazendas no Brasil afora. As professoras do ensino fundamental I inclusive contam em detalhes a trajetória de Zumbi e sua vida no quilombo. Assim, temos uma legislação que reconhece como legítima essa resistência e garante aos descentes de quilombos a posse das terras por eles ocupada. Em várias partes do Brasil a luta de comunidades quilombolas pela posse da terra é notória. Junto com os indígenas os povos quilombolas frequentemente enfrentam a disputa de cada pedaço de chão com grandes latifúndios e em algumas situações tem ganhado. 
A luta quilombola em termos materiais se tornou a luta do povo negro pelo reconhecimento aos crimes a que foram submetidos e a equiparação de direitos, especialmente o direito a posse da terra. Nesse sentido alguns grupos que não tem um histórico de resistência escrava são considerados quilombolas pela afinidade étnica e pela demanda à parte que lhe cabe neste latifúndio. Ou ainda há identidade étnica posta e aceita. 
Pernambuco tem reconhecidos ao longo do seu território  120 comunidades quilombolas, um deles, Conceição das Crioulas se encaixa no perfil peculiar de território quilombola que não viveu um processo de resistência escravocrata. O mais interessante é que a representação estadual e as maiores conquistas estão com este povo que vive a 42 km de Salgueiro bem no meio do sertão central de Pernambuco.
Pernambuco é um estado que se destaca pela história de resistência à escravidão na formação de quilombos, inclusive porque foi um dos maiores produtores de açúcar na época da colonização nos séculos passados. Foi em uma região situada na então Capitania de Pernambuco que, entre o final do século XVI e início do século XVII, o famoso quilombo de Palmares se formou. Posteriormente, já no século XIX, essa província foi palco da formação do quilombo de Catucá, dessa vez em região localizada na Zona da Mata próxima à capital. 
A luta dos quilombolas do estado de Pernambuco conta com a forte presença de lideranças femininas e está caminhando cada vez para o sertão. Em Conceição das Crioulas foram mulheres que inicialmente se articularam para dar voz às reivindicações das comunidades. E em sua história Conceição apresenta característica tão peculiares que de modo algum desabilitam para a luta. 
As narrativas e construção histórica em Conceição das Crioulas lembram a historiografia africana, onde datas não são precisas e sentimentos são considerados prioritários, o que ao meu ver enriquece profundamente a construção histórica local pois compromete os sujeitos narradores como também participantes desta história.
Conceição das Crioulas é um território quilombola que luta pelo reconhecimento, posse da terra e melhoria de qualidade de vida. Segundo a tradição local, a comunidade foi fundada por seis crioulas que compraram as terras com dinheiro do próprio esforço ainda no "tempo dos reis". O único ano de fato marcado para os remanescentes da seis crioulas é 1802, data da compra e registro das terras, há escritos também na cidade de Flores com informações mais precisas sobre a transação. As crioulas compraram a terra após juntarem dinheiro trabalhando em lavouras de algodão. O esforço e a  ajuda da padroeira senhora Conceição, fez surgir a comunidade, que ao contrário de outros grupos quilombolas não foi o resultado de resistência e sim de uma transação comercial possível graças ao empreendimento das seis crioulas (uma delas, a Francisca, é símbolo do movimento em Conceição e está estampada em camisas, paredes e virou até boneca!). 
O mito da fundação de Conceição das Crioulas é permeado por uma história de liderança. Excepcionalmente, uma liderança de mulheres, "as seis crioulas". Conversando com Dona Generosa ou qualquer outra liderança mais antiga temos o retrato de uma comunidade que foi criada por mulheres fortes e resistentes, que, desafiando os padrões sociais da sua época, exerceram grande influência sobre seu grupo, na coordenação dos trabalhos, no plantio e colheita do algodão, no firme propósito de adquirirem a posse legal da terra, através da compra. "Em outros momentos da história de Conceição, especificamente quando aquelas pessoas começaram a ser expropriadas por outras, vindas de fora, atraídas talvez pela qualidade do solo propício ao plantio de algodão e à criação de gado, também foram as mulheres que se destacaram na luta pela recuperação daquelas terras. E hoje, na luta pela construção da identidade étnica e pela terra, são essas mulheres negras: trabalhadoras rurais, professoras, enfermeiras, artesãs e outras que estão no comando". 

Para saber mais sobre a história de Conceição, leia "Conceição das Crioulas: terra, mulher e política" de Maria Jorge dos Santos Leite ou faça uma visita ao território, que é no meio do caminho entre Cabrobó e Salgueiro aqui no sertão de Pernambuco. Acho que  a visita vai valer a pena.

18.5.14

Santo guerreiro

 Por Eduardo Souza Lima


Padroeiro da Inglaterra, Geórgia, Lituânia, Sérvia, Montenegro e Etiópia; das cidades de Londres, Barcelona, Gênova, Moscou, Beirute e Ilhéus; dos escoteiros, da Cavalaria do Exército Brasileiro e do Corinthians, o santo mais popular das faces da Terra e da Lua também é o mais pop.

São Jorge estampa camisetas, qual um Che Guevara celestial, foi cantado em verso e prosa por Jorge Ben (em “Jorge de Capadócia”) e Iron Maiden (“Flash of the Blade”), e até virou coadjuvante do desenho animado do herói favorito da garotada, Ben Dez – como o Sir George da série Supremacia alienígena. Venerado fervorosamente por milhões de fiéis das três grandes vertentes do catolicismo (a Igreja Católica Apostólica Romana, a Cristã Ortodoxa e a Comunhão Anglicana), também é um dos 14 santos auxiliares – que seriam os mais tenazes intercessores divinos contra moléstias diversas.

No Brasil, além de disputar a preferência dos católicos com Nossa Senhora Aparecida, ainda assume as formas de Ode, Ogum e Oxóssi na umbanda e no candomblé. Apesar de todo esse prestígio, chegou a ser rebaixado, assim como aconteceu com o ex-planeta Plutão: virou santo menor, de terceira categoria, por causa de sua origem envolta em incertezas. Uma reforma promovida pelo papa Paulo VI em 9 de maio de 1969, retirou do calendário litúrgico as comemorações dedicadas a santos cujas vidas eram conhecidas somente por relatos tradicionais, sem nenhuma documentação histórica. Coube a João Paulo II, pontífice mais sensível aos clamores populares, não só reabilitá-lo, como promovê-lo a arcanjo, no ano 2000. De lá para cá, a popularidade do Santo Guerreiro só cresceu.

Segundo a tradição, Jorge teria nascido no ano de 275, na Capadócia (região que hoje pertence à Turquia), filho de pais cristãos e abastados. Depois da morte do pai soldado, no campo de batalha, mudou-se com a mãe para a terra natal dela, Lida (ou Lod), na Palestina, onde se educou e entrou para o exército romano, sendo rapidamente promovido a capitão. Há quem acredite que, em verdade, Jorge teria nascido mesmo nessa cidade e que os primeiros narradores da história do santo teriam confundido os registros do guerreiro com a de um religioso conhecido, justamente, por Jorge da Capadócia, que viveu na mesma época.

Aos 23 anos, já com o posto de tribuno militar, foi morar na Nicomédia (atual Izmit, Turquia), então transformada em um dos centros administrativos do império por Diocleciano, e foi incorporado à própria guarda pessoal do tetrarca. Quando o imperador baixou um edito proibindo aos soldados romanos professar a fé cristã e os obrigando a oferecer sacrifícios aos deuses romanos, no início do que entrou para a história com o nome de Grande Perseguição, a maior e mais sangrenta perpetrada contra a religião em franca expansão nos territórios imperiais, Jorge não se conformou.

Segundo a tradição, durante a audiência no Senado que confirmaria o decreto imperial, ele teria se negado a cumpri-lo, dizendo que os ídolos adorados nos templos romanos eram falsos deuses. Diocleciano, que muito o estimava, tentou fazê-lo mudar de ideia, oferecendo-lhe riquezas. Diante de sua negativa, mandou torturá-lo. O suplício, porém, teria fortalecido ainda mais a sua fé: sempre que era levado à presença de Diocleciano e este lhe pedia que venerasse os deuses romanos, Jorge dizia: “Não, imperador! Eu sou servo de um Deus vivo! Somente a ele eu temerei e adorarei”.

Mesmo contrariado, Diocleciano mandou degolá-lo, o que, segundo a tradição, teria acontecido em 23 de abril de 303 – ou seja, quase dois meses depois de 24 de fevereiro de 303, data em que foi publicado o primeiro edito de perseguição aos cristãos, política adotada pelo tetrarca em busca de maior unidade no interior do império. O edito determinava que todas as igrejas dedicadas ao culto de Cristo fossem demolidas.

Os restos mortais do futuro santo foram transferidos para Lida, onde mais tarde o imperador Constantino, que em 313 lançara o Edito de Milão, ordenado que a fé cristã fosse livre e respeitada, fez erguer uma capela, que ajudou a disseminar a devoção ao mártir pelo Oriente. No século seguinte, já existiam em Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente, cinco igrejas edificadas em sua memória; no Egito, foram construídos 40 conventos dedicados a ele. As Cruzadas foram decisivas para espalhar o culto do santo soldado pelo Ocidente.

Como outro herói mítico de origem romana, o rei Artur, Jorge também teve sua história recontada em baladas medievais, o que ajudou a lançar mais dúvidas sobre a sua real existência. Por isso, hoje é representado como um cavaleiro de reluzente armadura. Nas canções de gesta, Jorge era filho de Lorde Albert de Coventry, roubado ao nascer pela Dama do Bosque, depois de sua mãe ter morrido durante o parto. Treinado para ser um guerreiro invencível, após mil peripécias ele chega a Sylén, na Líbia. A cidade estava sitiada por um terrível dragão, que exigia de seus moradores o sacrifício de uma donzela por dia para não destruí-la. Jorge chega a tempo de matar o monstrengo com sua lança e salvar Sabra, a filha do rei, com quem se casa e vive feliz para sempre em sua Coventry natal.

Em outra versão, ele tem uma espada mágica chamada Ascalon e um cavalo branco, e depois de abater o dragão ainda converte os moradores da cidade em cristãos. A lenda do cavaleiro que matou um dragão já havia sido renegada no século V por um concílio, mas resistiu e ganhou força no tempo das Cruzadas. Inspirado nela, o rei da Inglaterra Ricardo Coração de Leão tomou São Jorge como padroeiro e partiu para Jerusalém. No século XIII, o dia 23 de abril já era celebrado naquele país, e em 1348 foi fundada a Ordem dos Cavaleiros de São Jorge, por Eduardo III. Os ingleses acabaram por adotá-lo como padroeiro, ornando sua bandeira com a cruz do santo. Aos poucos, seu culto se espalhou pela Europa continental, principalmente por Alemanha (Frederico I, o Barba Roxa, lhe dedicou uma ordem militar) e França (Santa Clotilde, mulher do rei Clóvis I, o primeiro monarca católico franco, mandou erguer vários conventos e igrejas em sua memória) e Catalunha, onde o seu dia, lá chamado San Jordi, é celebrado desde o século XIV.

Diz-se que a devoção ao Santo Guerreiro chegou a Portugal nos estandartes dos cruzados ingleses que ajudaram o primeiro rei do antigo condado, Dom Afonso Henriques, a conquistar Lisboa aos mouros, em 1147. Mas somente no século seguinte, no reinado de Dom Afonso IV, o grito de batalha “São Jorge!” começou a ser usado no lugar do “Sant’Iago!”. Santo Dom Nuno Álvares Pereira, um dos maiores heróis da história do país, creditava a ele a vitória portuguesa na Batalha de Aljubarrota, em 1385, e no reinado de Dom João I São Jorge finalmente substituiu Santiago como maior padroeiro de Portugal – hoje, porém, a honraria cabe oficialmente a Nossa Senhora da Conceição. O culto ao santo chegou ao Brasil tão logo desembarcaram aqui os portugueses – já em 1387, Dom João I decretara a obrigatoriedade do uso de sua imagem nas procissões de Corpus Christi. Mas ele só se tornou tão popular no país com o auxílio das religiões afro-brasileiras, por obra do sincretismo.

O catolicismo trazido pelos portugueses ao Brasil foi o da Contrarreforma, que reabilitou antigos costumes e crendices medievais. Entre essas práticas estava o culto dos santos. Enquanto na casa-grande a família branca venerava os seus, nas senzalas, os negros faziam festa para seus deuses. O convívio dos entes sagrados nas grandes fazendas, bem como a necessidade de disfarçar os cultos aos de origem africana, levou a uma aproximação, quase uma apropriação dos santos brancos pelos negros. Assim, Jesus e Oxalá se unificaram; Santa Bárbara virou Iansã; São Jerônimo, Xangô; Nossa Senhora da Conceição, Oxum etc. São Jorge assume vários mantos nas religiões afro-brasileiras. No candomblé da Bahia é Oxóssi e Ode; na umbanda de Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre, Ogum. Nas suas diferentes representações, o Santo Guerreiro é invocado como protetor contra o demônio, as tentações e a feitiçaria.

Reza a tradição, criada no Brasil, que as manchas da Lua seriam ele, seu cavalo e sua espada, sempre em vigília para defender aqueles que rogam por seu auxílio. Hoje, existem 26 paróquias dedicadas ao santo no Brasil, duas delas no Rio de Janeiro, onde o dia 23 de abril é feriado desde 2008.

 Fonte: http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens

Que ossos grandes você tem!

Ossos do maior dinossauro já descoberto são encontrados na Argentina



Especialistas afirmam fóssil desenterrado na Argentina pertence corresponde à maior criatura que já andou na Terra.

Ao medir o comprimento e a circunferência do maior fêmur (osso da coxa) encontrado, os cientistas estimaram que o dinossauro tinha 40 metros de comprimento e 20 metros de altura - quando esticava o pescoço.

Com 77 toneladas, seria tão pesado quanto 14 elefantes africanos e sete toneladas mais pesado do que o recordista anterior, o Argentinosaurus, também encontrado na Patagônia.

Os cientistas acreditam que é uma nova espécie de titanossauro - enormes herbívoros que datam do período Cretáceo.

Um trabalhador agrícola local tropeçou sobre seus restos no deserto perto de La Flecha, cerca de 250 quilômetros a oeste de Trelew, Patagônia.

Os fósseis foram escavados em seguida, por uma equipe do Museu de Paleontologia Egidio Feruglio, liderada por José Luis Carballido e Diego Pol.

Eles desenterraram os esqueletos parciais de sete dinossauros - cerca de 150 ossos no total - tudo em "condição notável".

Uma equipe de filmagem da unidade de História Natural da BBC capturou o momento em que os cientistas perceberam exatamente o quão grande era a sua descoberta.

"Dado o tamanho desses ossos, o novo dinossauro é o maior animal conhecido que andou na Terra", os pesquisadores disseram à BBC News.

"Com o seu pescoço esticado, ele tinha cerca de 20 metros de altura - o equivalente a um edifício de sete andares", acrescentaram.

Este herbívoro gigante viveu nas florestas da Patagônia entre 95 e 100 milhões de anos atrás, acreditam os cientistas, com base na idade das rochas em que foram encontrados os ossos.

Mas apesar de sua magnitude, ele ainda não tem um nome. "Ele terá um nome que descreva sua magnificência e em homenagem à região e aos proprietários rurais que nos alertaram sobre a descoberta", disseram os pesquisadores.

Houve muitos candidatos anteriores ao título de "maior dinossauro do mundo". O mais recente pretendente ao trono foi o Argentinosaurus, um tipo similar de saurópode.

Originalmente, pensou-se que ele pesava 100 toneladas, mais tarde, porém, a estimativa foi revisada para cerca de 70 toneladas.

É complicado estimar o peso dos dinossauros - há mais de uma técnica e, em geral, os cálculos se baseiam em esqueletos incompletos.

O peso Argentinosaurus foi estimado a partir de somente alguns ossos, mas no caso da nova descoberta os pesquisadores tinham dezenas para trabalhar, tornando-os mais confiantes na sua estimativa.

Paul Barrett, especialista em dinossauros do Museu de História Natural de Londres, concorda que a nova espécie é "realmente uma grande criatura". Ele advertiu, porém, que é difícil ter certeza sobre seu tamanho preciso, pois as estimativas são feitas com informações incompletas.


Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia

11.5.14

Flores para os náufragos de 1950

Por Geneton Moraes Neto
  

  
Por que os náufragos de 1950 merecem flores? Porque – justiça se faça – aqueles jogadores deram ao futebol brasileiro o primeiro título internacional de importância: o vice-campeonato mundial. Bem que merecem uma anistia ampla, geral e irrestrita. A derrota diante do Uruguai foi tão traumática que poucos se dão ao trabalho de notar que, ali, o Brasil despontou como “potência futebolística”. Mas o que aconteceu? Em vez de serem reconhecidos, os jogadores foram crucificados.

Tive a chance de entrevistar os 11 jogadores brasileiros que entraram em campo, no Maracanã, para a festa que não houve. Havia uma mágoa generalizada: eles lamentavam que, aqui no Brasil, o título de vice-campeão “não vale nada”. O estigma da derrota os acompanhou até a morte. Mas nunca é tarde para mandar flores para os rebeldes que falharam – ou para os náufragos que erraram. (É claro que erraram: os jogadores, confessadamente, entraram em campo achando que iriam golear o Uruguai. O “excesso de otimismo” foi fatal. Mas não mereciam carregar a cruz que carregaram pelas décadas seguintes.)

O naufrágio brasileiro de 16 de julho de 1950 ganhou o status de mito porque é um daqueles  acontecimentos que jamais se repetirão. Jamais o Brasil jogará pelo empate numa decisão de Copa do Mundo (as regras mudaram: naquele tempo, quatro países disputavam um quadrangular final. O Uruguai tinha vencido a Suécia – 3 a 2 – e empatado, no sufoco, com a Espanha – 2 a 2. Tinha, portanto, um ponto a menos que o Brasil – que vinha de dois passeios históricos: 7 a 1 sobre a Suécia e 6 a 1 sobre a Espanha. Por artes do destino, a tabela previu Brasil x Uruguai como última partida). Jogar pelo empate numa decisão de Copa? Nunca mais, nunca mais.

Jamais o Brasil jogará novamente diante de 200 mil torcedores. Os estádios, desde então, encolheram (o público pagante de Brasil x Uruguai foi de 173.850. Calcula-se que os não pagantes levaram o total a cerca de 200 mil. É uma marca extraordinária: nada menos de 10% da população do Rio de Janeiro na época, estimada em 2,3 milhões pelo censo de 1950). Quando 10% da população de uma grande cidade brasileira irá a um estádio para assistir a um jogo de futebol? Nunca mais, nunca mais.

Parecia impossível, naquele domingo de julho, uma derrota brasileira. Como para mostrar que não se contentaria com um mero empate, o Brasil fez 1 a 0, logo no primeiro minuto do segundo tempo: gol de Friaça. A taça estava na mão. Só uma catástrofe impediria a festa. Mas o impossível aconteceu: o Uruguai fez 2 a 1, gols de Schiaffino – aos 25 minutos – e Ghiggia, aos 34, naquela arrancada inesquecível que alvejou o sonho brasileiro de glória com um tiro seco e certeiro.

Como bem lembrou o jogador Juvenal, o Brasil, ali, foi campeão do mundo três vezes: quando o placar estava em 0 a 0, quando estava em 1 a 0 e quando estava em 1 a 1. Três chances imperdíveis! Mas, não. Brasil, campeão do mundo de 1950? Never more, never more – diria o corvo do poema de Poe.

Pelas décadas seguintes, 1950 virou sinônimo de maldição para o Brasil. Aquela decisão deixou de ser um acontecimento meramente esportivo. Produziu ressonâncias históricas, sociológicas, psicológicas, antropológicas... O Brasil x Uruguai deixou de ser um jogo. Virou uma lenda. Por quê? Pode-se arriscar uma explicação.

O Brasil – país periférico, agrário, subdesenvolvido – tinha, ali, uma grande chance de mostrar que poderia ser o melhor do mundo num esporte que já apaixonava o planeta. Mas veio o Uruguai, vizinho pequeno e incômodo, para acabar com a festa. Era como se a ambição de grandeza fosse desmentida, no último momento, por um acontecimento inesperado – algo que se repetiria em outros momentos de nossa história (guardadas as proporções, quem não se lembra da noite de 14 de março de 1985? Tancredo Neves, o primeiro presidente civil depois de duas décadas de poder verde-oliva, vai parar no hospital, trêmulo de febre, horas antes de tomar posse. Só subiria a rampa do Palácio do Planalto morto. E o que dizer da saga de Ayrton Senna – naufragando na curva Tamburello a caminho do título de tetracampeão de Fórmula 1?).

O Brasil teria também, em 1950, a chance de celebrar um traço fascinante do caráter brasileiro: a capacidade de reinventar o que foi trazido de fora. O futebol não é uma invenção brasileira: os ingleses o trouxeram para os gramados tropicais. Mas o Brasil teve a capacidade de reinventá-lo – a ponto de “futebol brasileiro” virar uma instituição reconhecida em todo o planeta como sinônimo de “futebol arte” (aquilo que os europeus chamam de beautiful game). A chance se perdeu.

O Brasil x Uruguai ganhou status de lenda, também, porque foi pobremente documentado em imagens. Poucos atentam para o fato: a Copa de 1950 foi o último grande acontecimento brasileiro antes da chegada da televisão ao país (a TV Tupi foi inaugurada em 18 de setembro de 1950, dois meses e dois dias depois da final Brasil x Uruguai).

Se aquela partida tivesse sido disputada na era da TV, não sobraria espaço para dúvidas: as imagens documentariam tudo. Basta ver o que acontece nas transmissões de hoje. Mas o que ficou do drama de 1950? Imagens fragmentadas. Não há um registro da partida inteira. Sem as imagens, entram em campo a lenda e a imaginação. O fato dá lugar à fábula. Como disse Paulo Perdigão, um dos espectadores de 1950 e autor de Anatomia de uma derrota, o Brasil x Uruguai de 1950 “é um mito fabuloso que se conserva e se agiganta na imaginação popular”.

Talvez esteja aí um dos motivos do fascínio exercido pela Copa de 50: o Brasil x Uruguai não é uma história fechada, lacrada, indiscutível. É um mito que vai passando de uma geração a outra de brasileiros, como símbolo do que o esporte pode ter de mais fascinante e mais dramático: a capacidade de repetir o que a vida pode ter de inesperado, imprevisível, incontrolável. O Brasil x Uruguai de 1950 parece revelar dois traços do comportamento brasileiro. Um: a imensa dificuldade de aceitar uma derrota. Dois: a extraordinária capacidade de superar um trauma (depois do naufrágio, como se sabe, vieram cinco títulos mundiais. Não por acaso, os fantasmas de 1950 sempre voltam ao noticiário em época de Copa).


Minha expedição em busca dos 11 jogadores brasileiros produziu dois resultados: o livro Dossiê 50 – agora relançado pela editora Maquinária e, em edição digital, pela E-Galáxia – e um documentário, produzido pela Globonews: Dossiê 50: comício a favor dos náufragos. Hoje, “estão todos dormindo”, como diria Manuel Bandeira. Os jogadores de 1950 não viveram para ver o Brasil tentar novamente conquistar, em casa, um título mundial.

Fonte: http://www2.uol.com.br/historiaviva

Camisinha de papiro egípcia

 Conheça fatos surpreendentes sobre o mundo antigo




Entre eles está a frase 'Até tu, Brutus?', que foi atribuída a Júlio César, mas que nunca teria sido proferida pelo imperador.

*A expressão 'Até tu, Brutus?' (Et tu, Brutus?, em latim) foi imortalizada como sinônimo de traição. Por volta do século 1 a.C., o imperador Júlio César se surpreendeu ao ver que seu filho adotivo, Marcus Brutus, estava no meio do complô de senadores que, em busca do poder, orquestrou sua morte. Mas estudos sugerem que César jamais proferiu essa frase. Na verdade, ela foi escrita por William Shakespeare para a peça Julius Caesar, por volta de 1599;

*Nero e o incêndio: na verdade, ele estabeleceu rigorosa legislação antifogo em Roma após o episódio, segundo historiadores;

*Conceito de república: vários Estados da Índia Antiga tinham formas republicanas de governo, segundo o estudioso K.P. Jayaswa;

*Cirurgia plástica na Índia: eles se tornaram hábeis cirurgiões em procedimentos como rinoplastia em meados de 500 a.C.;

*Camisinha no Egito: por volta de 1850 a.C., os mais ricos usavam papiro, couro e pele para envolver o pênis, diz o livro 'The Humble Little Condom: A History;


*Sexualidade em Roma: termos 'homossexual' e 'heterossexual' não faziam parte do pensamento romano sobre o sexo.

Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/mundo-insolito

4.5.14

Por Quéops!




Cientistas descobrem como os egípcios moveram pedras gigantes para formar as pirâmides

Uma civilização antiga, sem a ajuda de tecnologia moderna, conseguiu mover pedras de 2,5 toneladas para compor suas famosas pirâmides. Mas como? A pergunta aflige egiptólogos e engenheiros mecânicos há séculos. Mas agora, uma equipe da Universidade de Amsterdã acredita ter descoberto o segredo – e a solução estava na nossa cara o tempo todo.

Tudo se resume ao atrito. Os antigos egípcios transportavam sua carga rochosa através das areias do deserto: dezenas de escravos colocavam as pedras em grandes “trenós”, e as transportavam até o local de construção. Na verdade, os trenós eram basicamente grandes superfícies planas com bordas viradas para cima.

Quando você tenta puxar um trenó desses com uma carga de 2,5 toneladas, ele tende a afundar na areia à frente dele, criando uma elevação que precisa ser removida regularmente antes que possa se ​​tornar um obstáculo ainda maior.

A areia molhada, no entanto, não faz isso. Em areia com a quantidade certa de umidade, formam-se pontes capilares – microgotas de água que fazem os grãos de areia se ligarem uns aos outros -, o que dobra a rigidez relativa do material. Isso impede que a areia forme elevações na frente do trenó, e reduz pela metade a força necessária para arrastar o trenó. Pela metade.

Ou seja, o truque é molhar a areia à frente do trenó. Como explica o comunicado à imprensa da Universidade de Amsterdã:


“Os físicos colocaram, em uma bandeja de areia, uma versão de laboratório do trenó egípcio. Eles determinaram tanto a força de tração necessária e a rigidez da areia como uma função da quantidade de água na areia. Para determinar a rigidez, eles usaram um reômetro, que mostra quanta força é necessária para deformar um certo volume de areia.

Os experimentos revelaram que a força de tração exigida diminui proporcionalmente com a rigidez da areia… Um trenó desliza muito mais facilmente sobre a areia firme [e úmida] do deserto, simplesmente porque a areia não se acumula na frente do trenó, como faz no caso da areia seca.’’


Estas experiências servem para confirmar o que os egípcios claramente já sabiam, e o que nós provavelmente já deveríamos saber. Imagens dentro do túmulo de Djehutihotep, descoberto na Era Vitoriana, descrevem uma cena de escravos transportando uma estátua colossal do governante do Império Médio; e nela, há um homem na frente do trenó derramando líquido na areia. Você pode vê-lo na imagem acima, à direita do pé da estátua.


Agora podemos finalmente declarar o fim desta caçada científica. O estudo foi publicado na Physical Review Letters. [Universidade de Amsterdã via Phys.org via Gizmodo en Español]


Imagens por wmedien/Shutterstock; Al-Ahram Weekly, 5-11 de agosto de 2004, edição 702; Universidade de Amsterdã.

Fonte: http://gizmodo.uol.com.br

3.5.14

Atlântida?

'Atlântida' entre a Grã-Bretanha e a Europa sumiu sob o mar após tsunami de 5 m

Doggerland conectava a Grã-Bretanha à Europa continental e acabou desaparecendo após ser atingida por onda gigantesca.

Uma "Atlântida" pré-histórica no Mar do Norte pode ter sido abandonada após ser atingida por um tsunami de 5 metros há 8,2 mil anos, sugere um estudo britânico. A onda foi causada por um deslizamento de terra de grandes proporções ocorrido debaixo d'água na costa da Noruega. Analistas acreditam que o tsunami invadiu Doggerland, uma massa de terra que desde então desapareceu sob as ondas.

"Foi abandonada por tribos mesolíticas há cerca de 8 mil anos, que foi quando ocorreram os três Storegga slides (os deslizamentos debaixo d'água no limite da plataforma continental norueguesa, que estão entre os maiores deslizamento de terra conhecidos)", disse Jon Hill, do Imperial College em Londres.

A onda pode ter levado os últimos habitantes das ilhas. A pesquisa foi divulgada na publicação científica Ocean Modelling, e está sendo apresentada na Assembleia Geral da União Européia de Geociências em Viena, Áustria, nesta semana.

Hill e seus colegas do Imperial College Gareth Collins, Alexandros Avdis, Stephan Kramer e Matthew Piggott usaram simulações criadas em computador para explorar os possíveis efeitos do deslizamento de terra norueguês.




Ele disse à BBC: "Nós fomos os primeiros a criar um modelo do tsunami Storegga levando em conta a presença de Doggerland. Estudos prévios utilizaram a profundidade atual do oceano."

Dessa forma, o estudo fornece o conhecimento mais detalhado até o momento sobre os possíveis impactos do grande deslizamento e sua enorme onda que atingiu essa terra perdida. Durante a Era do Gelo, os níveis do mar eram muito mais baixos, e, em sua extensão máxima, Doggerland conectava a Grã-Bretanha à Europa continental.

Era possível para caçadores andarem desde o que hoje é o norte da Alemanha até o leste da Inglaterra. Mas há 20 mil anos, os níveis do oceano começaram a subir, gradualmente inundando a região. Há cerca de 10 mil anos, a região ainda tinha uma das mais ricas áreas para caça, pesca e caça de aves selvagens na Europa.

Uma grande bacia de água fresca ocupava o centro de Doggerland, alimentada pelo rio Tâmisa pelo oeste, e pelo rio Reno no leste. Suas lagoas, pântanos, e áreas alagadas eram um refúgio da vida selvagem.

"Em tempos mesolíticos, era o paraíso", explicou Bernhard Weninger, da Universidade de Cologne na Alemanha, que não participou do estudo recente.

Mas 2 mil anos depois, Doggerland se tornou uma ilha pantanosa de baixa altitude que correspondia à uma área do tamanho do País de Gales.

Barcos pesqueiros no Mar do Norte retiraram do fundo do mar ossos pré-históricos pertencentes a animais que um dia vagaram por esse "Jardim do Éden" préhistórico.

As águas também forneceram uma pequena quantidade de restos humanos e artefatos através dos quais cientistas puderam obter uma datação por radiocarbono, que usa a ocorrência natural de carbono-14 para determinar a idade de materiais carbonáceos até cerca de 60 mil anos. O deslizamento Storegga envolveu o colapso de cerca de 3 mil quilômetros cúbicos de sedimento.

"Se você pegar esse sedimento e colocar sobre a Escócia, cobriria o país e o deixaria a uma profundidade de 8 metros", disse Hill.

Dado que a maior parte de Doggerland tinha nessa época menos de 5 metros de altura, esse pedaço de terra pode ter sofrido inundações. Este machado do período mesolítico foi encontrado no Mar do Norte por um pescador holandês em 1988

"É plausível que o deslizamento Storegga foi de fato a causa do abandono de Doggerland durante a Era Mesolítica", escreveu o time de cientistas na publicação Ocean Modelling.

Hill disse à BBC: "O impacto em qualquer pessoa que estava vivendo em Doggerland na época teria sido enorme, comparável ao do tsunami no Japão em 2011."

Mas Bernhard Weninger suspeita que Doggerland já havia sido evacuada quando o deslizamento ocorreu.

"É possível que pessoas chegassem de barco para pescar, mas eu duvido que haviam moradores permanentes", ele explicou. "Eu acredito que já estava tão alagado nesta época que os dias de glória de Doggerland já haviam passado."

Registro escasso

Vince Gaffney, arqueólogo da Universidade de Birmingham, na Grã-Bretanha, disse: "Eu acho que eles (os pesquisadores) estão provavelmente certos, porque o tsunami teria sido um evento catastrófico."

Mas ele ressaltou que o registro arqueológico era escasso, e lembrou que dois machados do período neolítico (após Storegga) foram retirados da área de Brown Banks no Mar do Norte.

É possível que eles tenham sido jogados de um barco, acidentalmente ou como oferenda em um ritual, no entanto não é claro exatamente quando Doggerland finalmente sucumbiu às ondas.

"Mesmo depois de grandes erupções vulcânicas, as pessoas voltam, às vezes porque é impossível não voltar, mas também porque os recursos estão lá", disse Gaffney, o autor do livro, Mundo Perdido da Europa: A Redescoberta do Doggerland.

O tsunami também teria afetado o que é agora a Escócia e a costa leste da Inglaterra, bem como a costa norte da Europa continental.

Estima-se que a onda que atingiu a costa nordeste da Escócia teria 14 metros de altura, embora não esteja claro se esta área era habitada na época. Mas ondas que mediam cerca de 5 metros de altura teriam atingido a costa leste da Inglaterra, e há fortes evidências de que humanos habitavam essa região há 8 mil anos.

Grande parte dessa região também era baixa, sugerindo que o impacto sobre as pessoas da Era Mesolítica que dependiam substancialmente dos recursos costeiros, tais como moluscos, teria sido também bastante significante.

Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia

1.5.14

Para a Princesa, uma flor

 Resistências escravas no Brasil.


A escravidão no Brasil é um universo tão rico quanto desafiador para os postulantes e já profissionais em História. Uma parcela considerável e competente de historiadores aventura-se sobre esta temática nos proporcionando novos conhecimentos, olhares e perspectivas. O tema é de suma importância para a construção da Historia do Brasil por tratar de um dos principais traços da nossa “identidade” e salientar os mecanismos e práticas de combate a um determinado sistema, que apesar de ser pertencente a outros países e contextos, foi no Brasil, singular. O sistema escravocrata brasileiro possuiu traços peculiares, e um deles foi a atuação dos escravos no campo da resistência.

Resistir é negar ao sistema, é tentar contornar, conseguir conviver, burlar, facilitar e não, tão somente, romper os laços com o opressor e com o cativeiro. O modelo de tráfico e alocação dos escravos oriundos deste processo proporcionou diferentes ressonâncias no processo que levou desde as primeiras fugas, até a criação de Quilombos. É preciso questionar então o conceito de liberdade e dissocia-lo do termo “fuga”. A palavra em questão nos remete a rebeldia, desobediência e única alternativa viável para o escravo que almejava melhores condições de vida.

A inserção do escravo enquanto força de trabalho, foi inicialmente tradada como a única forma de atuação e cabendo somente ao negro um lugar separado na estante da história, como se o escravo apenas fosse usado para o trabalho cabendo a ele o papel de pouca (quase nenhuma) relevância, uma ferramenta, que poderia depois ser colocado em seu devido lugar, não participando de nenhuma relação ou transformação social. Segundo Fernando Henrique Cardoso[1], cabia aos escravos esta definição e eram assim tratados “como coisas, como mercadorias, reguladas pelo processo econômico”.

Esse pensamento marca o que ficou conhecido como a “Escola de São Paulo”, grupo de Historiadores e sociólogos caracterizados pela crítica feita ao pensamento de Gilberto Freyre, quando o mesmo vai enaltecer a condição do escravo como agente da miscigenação brasileira. Para Freyre o traço principal em suas obras, mais precisamente em Casa grande & senzala é a não negação do papel do escravo, enquanto agente histórico, o negro vai se misturar ao branco, ao mulato e vai produzir uma nova perspectiva para os olhares mais reacionários. O escravo vai criar o filho do senhor, vai fazer sexo com ele, vai amar, vai odiar, vai brincar, vai influenciar, vai tomar condição (salvaguardando as devidas proporções) de “gente”, mesmo sendo um servo e estando atrelado aos devaneios e atitudes de seu dono.

Os primeiros traços de resistência vão se estabelecer aí, na convivência. O escravo que não aceitava sua condição, nem sempre enxergava na luta, na fuga ou na violência exacerbada o único viés para sua liberdade. O que nos leva também a discutir o conceito de liberdade. O que seria esta liberdade? Para onde iria este escravo liberto, forro por sua própria destreza e trabalho árduo? Inseridos, desde seus pais, avós, no contexto do cativeiro e da servidão, como para ele, a liberdade era vista? Será que para o escravo todas as mazelas e durezas de uma vida servil acabariam com a tão sonhada liberdade? Mudança de dono, fuga temporária para reivindicar “direitos” ou “regalias”, alcoolismo, infanticídio, estas são algumas das resistências e que nem sempre levavam a liberdade. O escravo não queria ser escravo, mas se não o fosse, o que seria?

As resistências silenciosas vão dar o tom das ações destes escravos, que sabidamente viam estas relações como sendo mais benéficas do que o rompimento direto com o sistema. Para Carvalho[2]:

“a grande maioria dos escravos não virou quilombola, nem suicida, caso contrário a instituição não teria durado tanto tempo. Por esta razão, deve-se estudar as estratégias de resistência e sobrevivência que não implicavam numa fuga para o mato, nem deixar necessariamente a cidade. Fingir de forro pelas ruas, mudar de dono quando achasse conveniente, arrumar alguém que lhe escondesse por algum tempo, são algumas dessas alternativas visando contornar, não confrontar as imensas restrições impostas pelo regime escravista.”

 É válido salientar que os processos de resistência fizeram parte de todo o processo que envolveu a questão da escravidão no Brasil. A violência era a reguladora, para onde na maioria dos casos isolados, se fazia presente como investidas contra Quilombos e na desarticulação de possíveis levantes. O que mais se via era a negociação[3], “No Brasil com em outras partes, os escravos negociaram mais do que lutaram abertamente contra o sistema”.

Dentro de todo este cenário, jogos de poder, relações de domínio o escravo procurava manter uma relação direta com seus ancestrais, através da construção de um lar[4] e na constituição da “família cativa” apresentava-se também uma forma de resistência capaz de fazer frente ao sistema que de forma direta procurava reduzir qualquer forma de convivência respeitosa. As representações de resistência estendiam-se também para ações inusitadas e interessantes, como o envio de flores por parte de um quilombo, para a Princesa Isabel na tentativa de estabelecer uma relação de “respeito” para a condição por eles reivindicada.

A entrega simbólica das flores para a Princesa representa fidedignamente a noção que se tinha a respeito da condição do escravo, seja ela na condição de liberto ou de cativo. A atitude da entrega deste presente significa dizer que a resistência poderia ser encarada como um processo natural, haja vista que o momento ao qual este episódio está inserido, já representava o limite das ações que dariam início ao processo de assinatura da Lei Áurea, que enfim “libertara” os escravos. É preciso contar de forma mais dinâmica a história das resistências escravas no Brasil, para que possamos assumir uma nova postura, e não apenas reproduzir e caracterizar resistência como violência, como fuga, como sinônimo de revolta e de Quilombo.





[1] CARDOSO, Fernando H. Capitalismo e escravidão no Brasil meridional: o negro na sociedade escravocrata do Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. P. 35.
[2] CARVALHO, Marcus J. M. de. Liberdade: rotinas e rupturas do escravismo no Recife 1822-1850. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 1998.
[3] SILVA, Eduardo; REIS, João José. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das letras, 1989.
[4] SLENES, Robert W. Na senzala uma flor: esperanças e recordações na formação da família escrava, Brasil Sudeste, século XIV. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

Café com Mima #1 - Distopias


 
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