'Atlântida' entre a
Grã-Bretanha e a Europa sumiu sob o mar após tsunami de 5 m
Doggerland conectava a Grã-Bretanha à Europa continental e acabou
desaparecendo após ser atingida por onda gigantesca.
Uma "Atlântida" pré-histórica no Mar do Norte pode ter sido
abandonada após ser atingida por um tsunami de 5 metros há 8,2 mil anos, sugere
um estudo britânico. A onda foi causada por um deslizamento de terra de grandes
proporções ocorrido debaixo d'água na costa da Noruega. Analistas acreditam que
o tsunami invadiu Doggerland, uma massa de terra que desde então desapareceu
sob as ondas.
"Foi abandonada por tribos mesolíticas há cerca de 8 mil anos, que
foi quando ocorreram os três Storegga slides (os deslizamentos debaixo d'água
no limite da plataforma continental norueguesa, que estão entre os maiores
deslizamento de terra conhecidos)", disse Jon Hill, do Imperial College em
Londres.
A onda pode ter levado os últimos habitantes das ilhas. A pesquisa foi
divulgada na publicação científica Ocean Modelling, e está sendo apresentada na
Assembleia Geral da União Européia de Geociências em Viena, Áustria, nesta
semana.
Hill e seus colegas do Imperial College Gareth Collins, Alexandros Avdis,
Stephan Kramer e Matthew Piggott usaram simulações criadas em computador para
explorar os possíveis efeitos do deslizamento de terra norueguês.
Ele disse à BBC: "Nós fomos os primeiros a criar um modelo do
tsunami Storegga levando em conta a presença de Doggerland. Estudos prévios
utilizaram a profundidade atual do oceano."
Dessa forma, o estudo fornece o conhecimento mais detalhado até o momento
sobre os possíveis impactos do grande deslizamento e sua enorme onda que
atingiu essa terra perdida. Durante a Era do Gelo, os níveis do mar eram muito
mais baixos, e, em sua extensão máxima, Doggerland conectava a Grã-Bretanha à
Europa continental.
Era possível para caçadores andarem desde o que hoje é o norte da
Alemanha até o leste da Inglaterra. Mas há 20 mil anos, os níveis do oceano
começaram a subir, gradualmente inundando a região. Há cerca de 10 mil anos, a
região ainda tinha uma das mais ricas áreas para caça, pesca e caça de aves
selvagens na Europa.
Uma grande bacia de água fresca ocupava o centro de Doggerland,
alimentada pelo rio Tâmisa pelo oeste, e pelo rio Reno no leste. Suas lagoas,
pântanos, e áreas alagadas eram um refúgio da vida selvagem.
"Em tempos mesolíticos, era o paraíso", explicou Bernhard
Weninger, da Universidade de Cologne na Alemanha, que não participou do estudo
recente.
Mas 2 mil anos depois, Doggerland se tornou uma ilha pantanosa de baixa
altitude que correspondia à uma área do tamanho do País de Gales.
Barcos pesqueiros no Mar do Norte retiraram do fundo do mar ossos
pré-históricos pertencentes a animais que um dia vagaram por esse "Jardim
do Éden" préhistórico.
As águas também forneceram uma pequena quantidade de restos humanos e
artefatos através dos quais cientistas puderam obter uma datação por
radiocarbono, que usa a ocorrência natural de carbono-14 para determinar a
idade de materiais carbonáceos até cerca de 60 mil anos. O deslizamento
Storegga envolveu o colapso de cerca de 3 mil quilômetros cúbicos de sedimento.
"Se você pegar esse sedimento e colocar sobre a Escócia, cobriria o
país e o deixaria a uma profundidade de 8 metros", disse Hill.
Dado que a maior parte de Doggerland tinha nessa época menos de 5 metros
de altura, esse pedaço de terra pode ter sofrido inundações. Este machado do
período mesolítico foi encontrado no Mar do Norte por um pescador holandês em
1988
"É plausível que o deslizamento Storegga foi de fato a causa do
abandono de Doggerland durante a Era Mesolítica", escreveu o time de
cientistas na publicação Ocean Modelling.
Hill disse à BBC: "O impacto em qualquer pessoa que estava vivendo
em Doggerland na época teria sido enorme, comparável ao do tsunami no Japão em
2011."
Mas Bernhard Weninger suspeita que Doggerland já havia sido evacuada
quando o deslizamento ocorreu.
"É possível que pessoas chegassem de barco para pescar, mas eu
duvido que haviam moradores permanentes", ele explicou. "Eu acredito
que já estava tão alagado nesta época que os dias de glória de Doggerland já
haviam passado."
Registro escasso
Vince Gaffney, arqueólogo da Universidade de Birmingham, na Grã-Bretanha,
disse: "Eu acho que eles (os pesquisadores) estão provavelmente certos,
porque o tsunami teria sido um evento catastrófico."
Mas ele ressaltou que o registro arqueológico era escasso, e lembrou que
dois machados do período neolítico (após Storegga) foram retirados da área de
Brown Banks no Mar do Norte.
É possível que eles tenham sido jogados de um barco, acidentalmente ou
como oferenda em um ritual, no entanto não é claro exatamente quando Doggerland
finalmente sucumbiu às ondas.
"Mesmo depois de grandes erupções vulcânicas, as pessoas voltam, às
vezes porque é impossível não voltar, mas também porque os recursos estão
lá", disse Gaffney, o autor do livro, Mundo Perdido da Europa: A
Redescoberta do Doggerland.
O tsunami também teria afetado o que é agora a Escócia e a costa leste da
Inglaterra, bem como a costa norte da Europa continental.
Estima-se que a onda que atingiu a costa nordeste da Escócia teria 14
metros de altura, embora não esteja claro se esta área era habitada na época.
Mas ondas que mediam cerca de 5 metros de altura teriam atingido a costa leste
da Inglaterra, e há fortes evidências de que humanos habitavam essa região há 8
mil anos.
Grande parte dessa região também era baixa, sugerindo que o impacto sobre
as pessoas da Era Mesolítica que dependiam substancialmente dos recursos
costeiros, tais como moluscos, teria sido também bastante significante.
Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia
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